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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Igreja católica na Holanda enfrenta quase 2 mil queixas de abuso

Depois de enfrentar escândalos de abuso sexual dos Estados Unidos até a Bélgica, a Igreja Católica está diante de uma nova série de acusações na Holanda. Dados divulgados na última quinta-feira por uma comissão de investigação mostraram que quase 2 mil pessoas apresentaram queixas de abuso sexual ou físico contra a igreja, em um país com apenas 4 milhões de católicos.

"A Igreja Católica não enfrentava uma crise assim desde a Revolução Francesa", disse Peter Nissen, catedrático de história da religião na Universidade Radboud, na Holanda, referindo-se ao escândalo dos abusos. Com uma ação legal que começou esta semana, e acusações contra dois ex-bispos, a reação da igreja parece ter alimentado a crise. Quase todos os casos remontam há várias décadas, provavelmente com não mais de 100 nos últimos 20 anos.

Em março, quando lhe perguntaram na televisão sobre as centenas de queixas que estavam surgindo, uma das figuras de maior proeminência na igreja, o cardeal Adrianus Simonis, surpreendeu a nação quando respondeu não em holandês, mas em alemão. "Wir haben es nicht gewusst"– não sabíamos de nada –, usando uma frase associada com as desculpas dos nazistas depois da Segunda Guerra Mundial.
"Muita gente percebeu isso como uma afirmação da cultura de acobertamento dos casos", disse Nissen, acrescentando que para muita gente isso significava: "Deveríamos saber, ou sabíamos, mas não queríamos saber".

O reverendo Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse que não tinha comentários a respeito e que a questão estava nas mãos dos bispos holandeses.

No mês que vem, Simonis, o bispo aposentado de Utrecht, dará seu testemunho na audiência de um julgamento que já está em curso, relacionado com abuso sexual.

Em um relatório provisório, emitido na quinta-feira, uma comissão encabeçada por Wim Deetman, protestante e ex-ministro da Educação, disse que havia recebido 1.975 relatos de abuso sexual ou físico, alguns diretamente, mas outros por meio de um organismo criado para as vítimas, conhecido como Hulp en Recht, ou Ajuda e Justiça.

Uma das acusações centrais na Holanda é que, assim como em outros países, os abusadores conhecidos eram simplesmente transferidos a novas paróquias. Um aspecto do debate público que aumenta a culpabilidade da igreja é sobre o grau até o qual o abuso foi tolerado e encoberto.

A audiência em que Simonis testemunhará em janeiro envolve um sacerdote acusado de abusar de três jovens em Terneuzen. O padre havia sido preso, ainda que não julgado, sob argumentos parecidos no final dos anos 1970, quando era diretor de um centro juvenil católico perto de Haia, parte da diocese onde Simonis era bispo na ocasião.

O advogado do acusador, Martin De Witte, que representa cerca de outras 120 pessoas que alegam abuso, disse que seu cliente queria desculpas e uma indenização. "Nós dizemos que a Igreja Católica não cumpriu as medidas para proteger as crianças deste homem", disse. "Deram-lhe outra oportunidade, e outra, e outra."

Pieter Kohnen, porta-voz da igreja na Holanda, disse que o bispo diocesano não tinha responsabilidade sobre instituições administradas por ordens católicas. Kohnen afirmou que os casos que estão aparecendo ocorreram principalmente antes de 1970, entre as ordens religiosas que controlaram muitos internatos e clubes para crianças.

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